O MPB contribui para uma produção livre de contaminantes e assegura a segurança alimentar?

20/04/2022
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O Modo Produção Biológico (MPB) é uma alternativa ambientalmente mais sustentável, no entanto, tal como a produção convencional, este deve ser devidamente regulamentado e monitorizado de modo a minimizar possíveis riscos ambientais. De modo a elaborar cada vez melhores políticas ambientais, foi realizada uma extensa revisão de investigações científicas e publicada no prestigiado jornal Elsevier com o objetivo de perceber se a agricultura biológica contribui para uma produção livre de contaminantes e se assegura a segurança alimentar de todos nós.

Uma das conclusões dos autores foi a inexistência de consciência plena dos possíveis fluxos de poluentes ambientais com as práticas biológicas. Estas práticas contemporâneas geram novas ameaças ambientais, das quais destacaram os retardantes de chamas (FR), metais pesados, antibióticos veterinários (VAs) e microrganismos resistentes a produtos antimicrobianos. A transferência de bactérias de resíduos animais para o solo e ambientes aquosos pode facilmente transferir-se, através da cadeia alimentar, para humanos. (1)

Este fluxo não intencional de poluentes ambientais nos alimentos biológicos pode ser atribuído à utilização muitos substratos como estrume de curral e de bovinos de leite, resíduos verdes, adubo, resíduos domésticos, lodo e ervas forrageiras. Estas são as principais fontes de antibióticos veterinários, pesticidas e os seus resíduos, compostos farmacológicos, microplásticos, produtos de cuidado pessoal, e metais pesados. (2)

As estufas apresentam as condições necessárias para o controlo de parâmetros de irrigação, fertilização e climatéricos. No entanto, devido à presença de retardantes de chamas no material que compõe a estufa, estas são também pontos de acumulação e poluição destes, por exemplo, foram detetados valores 1.3 a 3.2 vezes superior destes produtos nas raízes, caule, folha e frutos do tomateiro, comparativamente ao modo de produção tradicional.(2)

Os estrumes provenientes de resíduos animais podem conter metabolitos de hormonas esteroides, causando efeitos adversos significativos no na fauna e flora do solo. Por exemplo já se detetou efeitos estrogénicos em lagartos (Podarcis sícula) encontrados em locais de tratamento de estrumes. Os antibióticos veterinários apresentam uma preocupação ambiental acrescida devido à sua elevada solubilidade em água, meia-vida longa e utilização continuada, foram já detetados estes químicos nas raízes, caule e folhas de plantas cultivadas com estrume de origem animal (3,4).

Estes relatórios implicam que a utilização de estrumes amimais e fertilizantes de resíduos animais, contem perigos, muitas vezes desconhecidos, no que respeita à evolução de microrganismos resistentes a antibióticos, efeitos adversos na flora e fauna e, de maior relevo, a entrada de antibióticos veterinários na cadeira alimentar humana (2).

No caso específico da carne, não se observou diferenças na concentração de poluentes orgânicos persistentes (POPs) de natureza carcinogénica, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs) e bifenilpoliclorado(PCBs) entre carne biológica e convencional, sugerindo que não existe minimização de risco com o consumo de carne biológica. (5)

Finalmente, os autores sugerem que a discrepância entre as políticas que regem a produção, compra e venda de produtos biológicos entre países prejudica a implementação de estratégias de sustentabilidade ambiental que assegurem o impedimento de entrada de poluentes nos produtos de modo produção biológica e proteção da saúde humana e dos ecossistemas.

Fonte:

1. Manyi-Loh, C., Mamphweli, S., Meyer, E., & Okoh, A. (2018). Antibiotic Use in Agriculture and Its Consequential Resistance in Environmental Sources: Potential Public Health Implications. Molecules, 23(4), 795. https://doi.org/10.3390/molecules23040795Umlauf et al 2011

2. Vittecoq, M., Godreuil, S., Prugnolle, F., Durand, P., Brazier, L., Renaud, N., Arnal, A., Aberkane, S., Jean-Pierre, H., Gauthier-Clerc, M., Thomas, F., & Renaud, F. (2016). Antimicrobial resistance in wildlife. Journal of Applied Ecology, 53(2), 519–529. https://doi.org/10.1111/1365-2664.12596Qian et al 2016

3. Ramakrishnan, B., Maddela, N. R., Venkateswarlu, K., & Megharaj, M. (2021). Organic farming: Does it contribute to contaminant-free produce and ensure food safety? Science of The Total Environment, 769, 145079. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.145079Pan and Chu 2017a, 2017b

4. de Ponti, T., Rijk, B., & van Ittersum, M. K. (2012). The crop yield gap between organic and conventional agriculture. Agricultural Systems, 108, 1–9. https://doi.org/10.1016/j.agsy.2011.12.004

5. Henríquez-Hernández, L. A., Luzardo, O. P., Valerón, P. F., Zumbado, M., Serra-Majem, L., Camacho, M., González-Antuña, A., & Boada, L. D. (2017). Persistent organic pollutants and risk of diabetes and obesity on healthy adults: Results from a cross-sectional study in Spain. Science of The Total Environment, 607–608, 1096–1102. https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2017.07.075